Na terceira e última entrevista em homenagem ao Dia dos Pais, a filha Adna conta como a superação da cegueira de Wilson Dias é um exemplo para ela
Por Marcelo Martim | Foto: Marcos Sandes / Ascom
Wilson Dias, 50 anos, perdeu a visão no segundo ano de vida e cresceu quebrando barreiras com uma mente forte e muita fome de conhecimento. Entre as expectativas que superou está a de ser pai, por duas vezes, de Felipe e Adna, 24 e 20 anos. Wilson é o terceiro e último personagem da série “Pais incríveis”, que tem como objetivo trazer histórias reais de homens araguainenses que enfrentam preconceito e dificuldades por terem deficiências, enquanto vivem esse amor incondicional.
Para Adna, o pai é um exemplo de superação por ter conquistado a independência e superado a barreira visual para aprender. “O que mais admiro no meu pai é a força de vontade para estudar, principalmente no começo da vida dele para entrar na escola, que é o que muita gente luta contra, e ele continua se aperfeiçoando, estudando inglês, francês e espanhol”. Wilson é formado em Letras pela UFT (Universidade Federal do Tocantins).
Além disso, Adna conta que o fato do pai ser cego só fortaleceu o vínculo afetivo da família. “Me deu um amadurecimento maior e uma relação muito aberta com ele. O meu melhor amigo é o meu pai”. Wilson aproveita essa aproximação para continuar incentivando o crescimento da filha. “Um momento de muita satisfação que tenho é quando a gente dialoga em inglês e queremos falar francês agora”, afirmou o pai.
Início difícil
Hoje, já formado em um curso superior, o primeiro grande desafio superado por Wilson foi justamente na escola. Quando jovem e morador de uma ilha do Araguaia, ele acompanhava a mãe nas aulas, mas faltava uma educação inclusiva para quem não enxerga. Por um acaso, descobriu um colégio interno em Goiânia, onde havia um ensino dedicado às pessoas com deficiência visual.
“Eu consegui convencer minha mãe e comecei do início mesmo, tinha 20 anos e a sala era cheia de criancinhas. Foi bastante desconcertante”, lembrou Wilson. No local, conheceu a mulher que viria ser sua esposa, Telma, que também é cega. A escola fechou três anos depois e vieram morar na cidade de Araguaína. Os dois continuaram estudando mesmo com as barreiras visuais e depois do nascimento das crianças.
Como qualquer outro
O aprendizado para criação das crianças foi na base do tato, desde as ações mais básicas como trocar a fralda. “Não passava pela minha cabeça ser pai e achava o casamento impossível, porque estava escondido lá no mato. Alguns meses depois do casamento fiquei sabendo que a gente teria filho. Foi uma preocupação bacana e fui me informar para ser pai. É uma felicidade gigantesca”, contou Wilson.
Adna explica que não existe nada de diferente dos outros pais. “Muita gente tem esse pensamento de incapacidade, que ele não deveria trabalhar, andar sozinho. Meu pai é independente. Eu fico encabulada até hoje como ele anda sozinho pelo centro, passeia com o cachorro, como tem tudo bem mapeado”.