Geovana Lima, 24 anos, foi professora na CIL (Central de Interpretação de Libras) de Araguaína e hoje atua como profissional com ensino superior em um hospital e uma farmácia da cidade
Por Marcelo Martin | Foto: Marcos Sandes / Ascom
A araguainense Geovana Lima Gonçalves Brauna, de 24 anos, é um exemplo de superação e determinação diante dos obstáculos impostos em sua vida. A jovem, que é surda, ajudou em muitas capacitações em Libras (Língua Brasileira de Sinais) como professora na CIL (Central de Interpretação de Libras) e atendimento sociais, se formou como farmacêutica e hoje atua profissionalmente em duas empresas da cidade.
“O surdo não pode ser tratado como coitado, ele é capaz como qualquer outro ser humano. Me sinto feliz quando consigo me comunicar com um ouvinte porque é uma grande barreira. Quando supero, posso ser protagonista da minha vida”, afirmou Geovana. A farmacêutica atua como auxiliar no HDO (Hospital Dom Orione) e no balcão de uma farmácia de Araguaína, trabalhando todos os dias da semana.
Mesmo após se formar no curso superior, Geovana não parou de ensinar Libras e um dos alunos é o próprio chefe no HDO, Andirê Batista Lima Azevedo. “Ela é muito dinâmica e esforçada, atua em todas as funções, por isso estamos esperando abrir uma vaga como farmacêutica para encaixar ela. Sempre que tem um tempinho livre ensina os companheiros de equipe porque sabe que isso vai facilitar a comunicação dela”, explicou o coordenador.
Libras na educação
Geovana só veio aprender a língua aos 15 anos, com o apoio de uma intérprete que a ajudou no ensino médio. De lá para cá se aplicou para entrar na universidade aos 19 anos e concluir o curso superior em farmácia aos 23 anos. “Quanto mais cedo aprender, melhor é. Eu frequentava também as aulas do AEE (atendimento educacional especializado), tinha a ajuda dos amigos, e na faculdade tive que reclamar para ter uma intérprete, que é um direito do surdo”.
A Libras (Língua Brasileira de Sinais) começou a ser introduzida como matéria escolar para os alunos da Rede Municipal de Ensino de Araguaína. As primeiras aulas foram realizadas na última semana, para 1.967 crianças matriculadas nas 77 turmas de quinto ano. Além do conhecimento linguístico, a nova disciplina trabalha a inclusão social com explicações sobre a surdez.
CIL
Geovana teve o primeiro contato com a CIL logo na abertura e dois anos depois virou professora para ouvintes e outros surdos. “Me ajudou a interagir melhor e o convívio com os ouvintes ficou muito mais fácil, além do crescimento na área social que me deu outras visões de mundo. Muitos surdos eram prejudicados principalmente na área da saúde, faltava esse caminho”, lembrou.
Araguaína é o único município do Tocantins que tem uma CIL, prestando atendimento a 40 pessoas surdas por mês. Os professores estão disponíveis para diversos auxílios, como serviços no banco ou acompanhamento médico. O órgão é parte da Secretaria Municipal de Assistência Social, que fica localizada à Rua Humberto de Campos, nº 508, no Bairro São João.
A CIL também capacitou servidores municipais para atendimento de pessoas surdas. Em algumas UBS (unidades básicas de saúde), por exemplo, a abordagem na recepção já está sendo realizada em libras para que o surdo se sinta incluído. Desde a inauguração da Central, em 2017, até dezembro de 2020, 160 pessoas fizeram o curso de Libras.