Durante quase dois anos Mayara Cabral lutou incansavelmente para evitar que outras mães passassem pela mesma dor
Por Mara Santos | Foto: Marcos Filho Sandes
A perda de um filho é um momento muito doloroso, impossível de ser esquecido por uma mãe. Algumas mulheres conseguem fazer com que sua dor seja ressignificada, transformando-a em força para lutar para que outras mães não passem pela mesma dor.
Mayara Cabral é uma dessas mulheres. Ela perdeu a filha Helena aos dois meses de idade, em junho de 2016, vítima de pneumonia, e a partir de então, iniciou uma luta pela implantação de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica em Araguaína.
Até a doença de Helena, Mayara sequer sabia da inexistência de uma UTI Pediátrica na cidade. A informação veio quando o quadro clínico da menina se agravou e a transferência para a UTI foi recomendada. “Foi aí que fiquei sabendo que só havia UTI Neonatal na cidade, e que nela só são internados bebês com até 28 dias de nascidos. Começamos a procurar por vaga em uma UTI de qualquer lugar do país. Encontramos em Palmas, mas ela não resistiu à remoção”.
Depois da morte de Helena, Mayara foi convidada por outras mães a criar uma associação para lutar pela implantação da UTI, dessa união nasceu a Associação das Mães que Amam (AMA). “Inicialmente, o grupo era lotado, com mais de 200 pessoas, com o passar do tempo, muitas foram desistindo. Hoje, somos só oito”, comentou Mayara. Nesses dois anos de luta, foi a lembrança da filha que não permitiu que Mayara desistisse.
Milagre da vida
Depois de perder Helena, Mayara conta que não fazia parte dos seus planos ter mais um bebê. “Sempre tive dificuldades para engravidar. Para ter minha primeira filha, Laura, foram três anos de tratamento. Para ter Helena, também fiz tratamento. Depois que ela virou anjo, não pensava em enfrentar um novo tratamento para engravidar.”
Durante sua luta pela UTI Pediátrica, a gravidez veio sem qualquer planejamento e a mãe conta que teve muitos medos. “Àquela época eu estava tomando antidepressivos por conta da perda de Helena, tive medo de que os medicamentos acarretassem algum problema para o bebê e a gente ter que reviver todo aquele drama”.
Tudo se encaminhou bem e às vésperas da data em que comemoraria o primeiro aniversário de Helena, em abril de 2017, Mayara deu a luz à Heloísa.
Sonho realizado
Mais uma vez, o mês de abril marcou a vida de Mayara, a UTI Pediátrica de Araguaína, que recebeu o nome de Helena, iniciou suas atividades no último dia 23. Para Mayara, a sensação foi de missão cumprida. “Fiquei doente naquele dia, foi uma carga emocional muito forte, mas também uma sensação de felicidade, de missão cumprida. Eu precisei perder minha filha para salvar outras vidas”.
UTI Pediátrica
A obra da UTI Pediátrica, executada pela Prefeitura de Araguaína, contou com investimentos na ordem de R$ 440 mil e ficou pronta em outubro do ano passado. Com dez leitos, a unidade conta com layout moderno, dentro do projeto de humanização da Prefeitura, com base no Ministério da Saúde. A unidade pode receber crianças a partir de 29 dias após o nascimento até adolescentes com 17 anos.
A atuação da AMA foi indispensável para a implantação da Unidade. “Município e Estado firmaram o compromisso de fazer funcionar a UTI Pediátrica, junto com o Ministério Público Estadual, Defensoria Pública, com o apoio da sociedade civil organizada, instituições, principalmente da Associação das Mães que Amam (AMA)", comentou o secretário municipal da Saúde, Jean Luís Coutinho.