Após perder a visão há 7 anos, Manoel Bezerra venceu o preconceito e conseguiu a confiança da clientela com consertos de motores e eletrodomésticos; ele ainda realiza invenções práticas para o dia a dia com materiais recicláveis
Por: Mara Santos
Foto: Marcos Filho
Quem mora no Setor Bela Vista, em Araguaína, já sabe a quem recorrer quando um eletrodoméstico ou motor apresenta defeitos: basta levar na casa do Manoel Bezerra. Conhecido pela competência no que faz, o eletricista e mecânico tem um diferencial: faz todo o trabalho sem enxergar nada. Após perder completamente a visão em 2010, ele venceu o preconceito e é referência em consertos e dá exemplo de superação.
Manoel, com 57 anos, contou que vive em Araguaína desde a infância. Ele e a esposa, Neusa, foram os primeiros moradores da Rua 18, naquele setor, há 33 anos. Bezerra contou ainda que perdeu a visão por complicações do diabetes. Na época, trabalhava com instalações elétricas residenciais e ficou impossibilitado de trabalhar.
“Fiquei muito abalado, mas depois comecei a tentar fazer pequenos consertos e consegui, então não parei mais”, conta. No início a clientela era tímida, as pessoas duvidavam que ele fosse capaz, mas com o apoio da mulher e dos quatro filhos, o Manoel nunca desistiu.
Hoje, Manoel conta com uma clientela fiel e realiza consertos em motores diversos como máquinas de lavar, máquinas de costura, motocicletas, motor de popa, bomba d’água, entre outros. “O serviço que chega aqui, não volta sem funcionar”, afirmou.
Inventor
Além de complementar a renda da família, o trabalho funciona como terapia e, nos momentos de folga, Manoel inventa engenhocas com material reciclável. Ele mostrou a máquina de cortar garrafas para fazer copos que ele inventou, além da máquina de cortar babaçu para artesanato e o carregador de baterias feito a partir de nobreak velho, aparelho usado em computadores.
“No começo foi muito difícil, ele ficou revoltado, nervoso. Foi através do trabalho que ele conseguiu reorganizar a vida”, relatou Neusa.
Independência com parceria
Manoel tenta ser cada vez mais independente, para isso criou um teste sonoro e outro vibratório para facilitar seu trabalho. Em alguns casos, a esposa Neusa que está sempre por perto ajuda na hora em que a visão é imprescindível.
“Mesmo com o sinal sonoro, eu faço os testes de tensão, a leitura do aparelho digital, soldo e ajudo no recebimento dos pagamentos e trocos. É uma parceria”, explicou.