ESPECIAL 58 ANOS
Feiticeira dos Bosques, Homem do Dilúvio e o Menino Epiléptico formam o contexto cultural e religioso na época da formação da cidade, no então Norte Goiano
Por Joselita Matos
Completando 58 anos de emancipação política, Araguaína já possui as suas lendas urbanas, como em outras cidades que possuem grande processo histórico. A maioria da população não conhece as três lendas que abordam a época da formação de Araguaína, de quando os primeiros habitantes começaram a chegar à região. De acordo com o pesquisador e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Rayllin Barros da Silva, Araguaína as lendas urbanas são: a Feiticeira dos Bosques, o Homem do Dilúvio e o Menino Epiléptico.
Barros explica que as lendas são uma mistura de fatos reais com a imaginação das pessoas, dentro da tradição oral. No caso dessas três lendas, foram fenômenos culturais do povo que chegava ao então Norte Goiano, com o objetivo de morar e acabou criando uma disputa com o discurso dos primeiros religiosos, que também começaram a se instalar na região, especificamente, os orionitas.
“A região onde fica Araguaína é de passagem, de transição e sob influência das regiões Norte, Nordeste e de Goiás. Nesse processo migratório foi construída a formação cultural da cidade, a qual prevaleceu a cultura nordestina e o catolicismo popular. Então, o discurso religioso popular sobrevive através das crenças; e com a falta da assistência religiosa na época, a população acabou indo atrás desses personagens que se mostravam como salvadores de fieis”, explicou o historiador.
Feiticeira dos Bosques
Segundo Barros, uma mulher chamada pelos orionitas de Feiticeira, uma senhora conhecida como Dona Antônia, apareceu na região onde hoje fica o Distrito de Novo Horizonte, em 1957. Com um discurso religioso voltado para uma cruz que teria caído do céu e que as pessoas seriam salvas se a acompanhassem, a Feiticeira começou a envolver as famílias que moravam nas proximidades, conseguindo agregar em torno de 50 famílias.
Para combater este “fenômeno religioso” que não estaria dentro da Igreja Católica, o padre Pacífico fez um combate incisivo contra os trabalhos de evangelização da Feiticeira. “Este é o primeiro registro de uma lenda ligada ao discurso religioso em Araguaína”, explicou o historiador.
A Feiticeira morreu quase um ano depois, após o início do combate do padre contra o seu trabalho de evangelização. “Pouquíssimas pessoas têm conhecimento dessa história, ela foi se perdendo ao longo da tradição oral, sendo registrada posteriormente nas memórias do Padre Quinto Tonini, o livro ‘Dom Orione, entre diamantes e cristais’”.
Homem do Dilúvio
A segunda lenda urbana vem a ser registrada no ano seguinte, em 1958, entre os meses de fevereiro a abril, conta Barros. Um senhor de barba comprida que ficou conhecido como “Homem do Dilúvio” apareceu na região de Araguaína pregando que o mundo iria se acabar e começaria por esse local.
Para as pessoas se salvarem, teria que ser construído um barco de pau de juriti e elas teriam que segui-lo em seus ensinamentos. “Logo esse Homem do Dilúvio desapareceu e como aconteceu com a Feiticeira, não se tem mais detalhes”, explicou o historiador.
Menino Epiléptico
A lenda do Menino Epiléptico surge da mesma forma das outras duas, de forma inesperada e que tinha o discurso de salvação das pessoas, no ano de 1958. “Não se sabe se tinha realmente a doença, mas contavam que ele via Deus e que conversava com ele, transcrevendo os diálogos que tinha entre os dois”, contou Barros.
“Assim como surgiu, desapareceu. E também não há registros documentais sobre esse menino”, concluiu.