Um total de 300 atores voluntários deu vida à peça, que rememora uma das mais importantes da Bíblia, os momentos principais dos últimos dias de Jesus na Terra.
A Sexta-feira Santa foi diferente para mais de 7 mil cristãos em Araguaína, que estiveram presentes no circuito entre o Jardim das flores e a Vila Patrocínio para assistir ao maior espetáculo a céu aberto do Tocantins, a Via Sacra. Um total de 300 voluntários, entre atores e atrizes de comunidades cristãs da cidade, deu vida à peça, que rememora uma das mais importantes passagens bíblicas, os momentos principais dos últimos dias de Jesus na Terra, como sua vida, morte e ressurreição, além de outras passagens citadas na Bíblia como o batismo de Jesus por João Batista, a tentação e os milagres do filho de Deus.
A encenação da Via Sacra foi composta por 15 cenas e teve início com um casal de pais contando a história da Paixão de Cristo para o casal de filhos. O pai foi o narrador principal da história, que intercala entre as cenas da família e o teatro. O texto da 17ª edição da Via Sacra foi escrito por William Monteiro (Bill) e teve livre adaptação do secretário Wilamas Ferreira e Edna Rocha. O figurino de cada personagem foi formado grande parte por trajes de anos anteriores. Poucos receberam retoques da produção artística da encenação teatral, como foi o caso das roupas usadas pelos guardas do império romano.
Religiosidade, cultura e tradição foram alguns dos conceitos exaltados durante a representação cênica, que repassaram para a comunidade presente o significado do verdadeiro caminho da fé, amor e compaixão. Os conceitos foram transmitidos por mais de duas horas daquela que é considerada a maior montagem cênica do Estado e que foi acompanhada como uma peregrinação pelo público presente. “O balanço foi muito positivo. Acredito que agradamos ao público, que fiel, ficou até o final, compreendeu e acompanhou cada cena”, destacou o secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Wilamas Ferreira, ressaltando que a cultura religiosa da Via Sacra é muito importante para a cidade. “Ano que vem, se Deus quiser, tem de novo”, adiantou Ferreira.
Além da Secretaria de Cultura, a encenação contou com o apoio da Secretaria de Infraestrutura e já foi vista por um público de mais de 100 mil pessoas em suas 17 anos de apresentações.
Cenas
Vários palcos foram montados na arena para expressar uma linguagem atualizada e integrada aos conceitos de hoje em dia. Na primeira cena, o pai de família introduz o enredo, narrando a história de Cristo para o casal de filhos e a esposa. O cenário é um banco de uma praça e a trilha sonora é “Oração pela família”, de Padre Zezinho. Em seguida, inicia a encenação, mostrando Maria procurando Jesus entre a multidão de participantes da festa da Páscoa, em Jerusalém. Este ano, Jesus com apenas 12 anos de idade, pregando para um grupo de sacerdotes e doutores no templo, foi a grande novidade. “Essa é a primeira vez que estou interpretando um dos personagens principais e estou me sentindo valorizado”, disse Rian Vitor, pouco antes de subir no palco. O garoto, que já fez parte de edições anteriores do espetáculo como figurante, deu vida a Jesus quando Ele era uma criança.
João Batista também esteve presente na peça. Ele foi o anunciador da vinda do Messias. Durante suas pregações de arrependimento, ele era constantemente desacreditado por muitos. A segunda cena retrata o batismo de Jesus, acompanhado de dois anjos. A cena seguinte relembrou o diabo tentando a Cristo, depois de um período de 40 dias de jejum. Por fim, Jesus de Nazaré se negando ao pecado, rezou o ‘Pai Nosso’ no deserto.
Missão
Em seguida, na cena 4, Jesus escolhe seus doze apóstolos para fazer missões. Alguns dos discípulos foram selecionados enquanto pescavam. Logo depois, Cristo, fez o seu primeiro grande sermão, no alto de um monte, e o iniciou enumerando as oito bem aventuranças. Este momento, na história bíblica, ficou conhecido como o ‘Sermão da Montanha’. No mesmo episódio, um grupo de mães acompanhadas dos filhos tenta falar com Jesus, durante a pregação, mas é impedido por guardas. Jesus autoriza que as crianças venham até ele, “porque delas é o reino dos céus”, justifica Ele. A cena 5 mostra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, montado em um jumento e aclamado pelo povo daquela localidade com dizeres como "Bendito é o que vem em nome do Senhor!" e “Hosana nas alturas!”.
Ao entrar no templo, Jesus derrubou as mesas e cadeiras dos cambistas e começou a expulsá-los, por estarem comprando e vendendo na casa de Deus, caracterizando-os como “raça de víboras”. Na cena 6, Jesus perdoa uma mulher adúltera que queriam apedrejá-la e condena a hipocrisia dos acusadores. Na 7, Cristo lava os pés de seus discípulos e Pedro lava os pés de Jesus. Na encenação da Santa Ceia, Jesus sente tristeza de morte e ora e glorifica ao pai. Nessa hora, o que se via no rosto das pessoas eram lágrimas e consternação devido ao realismo dado à cena. “Eu achei tudo perfeito, continuem sempre assim”, disse a técnica de laboratório, Francisca de Sousa. “Todas estas cenas representam muito para nós seres humanos”, destacou ela.
Crucificação
Antes da crucificação, ao lado de seus apóstolos em Jerusalém, Jesus fez a última refeição, a ‘Santa Ceia’. Nela, Ele proclamou que é o “pão da vida” e preanunciou a traição de Judas Iscariotes. Naqueles dias, depois de orar no Getsêmani, Jesus é beijado na face por Judas, que o trocou por algumas moedas de prata. Jesus é reconhecido como Nazareno, capturado pelos guardas, negado três vezes por Pedro, julgado por Pôncio Pilatos a ser crucificado e sofre na ‘Via Dolorosa’ com uma cruz de espinhos na cabeça. Maria tenta impedir todo o sofrimento do filho, e lamenta antes e depois de sua morte. Depois de crucificado, na cena 12, Cristo é retirado da cruz e levado para o sepulcro, ressuscitando ao terceiro dia. A primeira serva de Jesus a vê-lo após a ressurreição foi Maria Madalena, que saiu anunciado que Cristo estava vivo. A penúltima cena do espetáculo foi a ascensão de Jesus aos céus, logo depois de sua primeira aparição aos apóstolos. A representação cênica da Via Sacra foi finalizada com a família, onde o pai ensina aos filhos a pregar sempre a verdade, viver a justiça e semear a paz e o amor. As cenas emocionaram crianças e adultos. Foi o caso de Maria Neide Morais. Ela mora no Jardim das Flores e acompanhou todos os ensaios diariamente. “As partes que mais me emocionaram foram a hora que ele carregou a cruz e o momento da ressurreição. Tudo foi muito lindo. Ano que vem eu espero que tenha de novo e eu estarei aqui de novo, com fé em Deus”, disse a dona de casa. “Todo ano eu frequento e gostei muito. Para mim é interessante saber como foi a vida de Jesus e seguir os passos dele”, finalizou o estudante Alexandre Lima.