A dona de casa Érica e o seu marido Jares fazem tudo o que é possível para dar uma vida comum para o filho Guilherme, de sete anos, que desde que nasceu possui deficiência visual e motora, por causa do pouco desenvolvimento dos membros. Érica conta que, na Escola Municipal Léia Raquel, na Vila Ribeiro, onde o filho estuda, ele é o xodó dos colegas e recebe uma atenção enorme dos professores. “O tratamento com ele é ótimo, ele tem um acompanhamento espetacular com a equipe”.
Mesmo assim, para ela, Araguaína ainda tem muito a avançar no relacionamento com as pessoas com deficiência. “O maior desafio que temos hoje com as necessidades do Guilherme é a acessibilidade e o respeito, porque as pessoas precisam enxergar a pessoa com deficiência como um semelhante, uma pessoa comum, como qualquer outra. Eu ainda enfrento dificuldades para ir com ele na cadeira de rodas em diversos estabelecimentos comerciais da cidade. Temos uma grande mudança nas vias públicas, mas queremos que avance mais”, relata Érica.
“Nada sobre nós, sem nós. Custa nos ouvir?”
O pedido por atenção foi uma das principais mensagens da 9ª Caminhada das Pessoas com Deficiência de Araguaína, realizada neste dia 21, dentro da programação da 5ª Semana Municipal de Conscientização da Pessoa com Deficiência. Diversas entidades de apoio, acolhimento e atendimento se uniram para percorrer o trajeto da Praça das Bandeiras até o Parque Cimba e sensibilizar todas as pessoas para a necessidade de ver e ouvir as demandas das pessoas com deficiência.
“Precisamos que a sociedade saiba que os nossos direitos precisam ser efetivados cada dia mais. A cidade tem crescido muito no que diz respeito à acessibilidade, damos o mérito para tudo o que está sendo feito, mas ainda há muito para fazer ainda. E o que mais queremos é participar dessas decisões, estar dentro dessas obras, porque quem sabe da realidade das pessoas com deficiência somos nós. Esse é um chamamento para que a sociedade desperte”, explicou a presidente da ADA (Associação das Pessoas com Deficiência de Araguaína), Marielice Dias de Araújo.
A 9ª Caminhada contou com a participação de órgãos da Prefeitura de Araguaína, Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), Clínica Escola Mundo Autista, UFNT (Universidade Federal do Norte do Tocantins), Centro Dia de Araguaína, grupo de ciclista Batons do Cerrado, escolas municipais, entre outras entidades e instituições.
Trabalho conjunto
Jocélia Alves, diretora de Proteção Social Especial da Secretaria da Assistência Social, Trabalho e Habitação de Araguaína, destaca que o poder público está sempre buscando uma proximidade maior com as entidades e instituições que representam os deficientes para construírem juntos as políticas públicas que de fato garantam seus direitos.
“Nós unimos forças para sensibilizar toda a sociedade de que, em todas as ações e políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência, esse público seja ouvido para sabermos as necessidades reais de locomoção, acessibilidade, dentro dos prédios públicos e na iniciativa privada, para que eles tenham mais qualidade de vida”, disse Jocélia.
Maria Nilza Araújo se tornou deficiente visual por causa de uma doença ocular degenerativa. Diante do intenso trabalho em prol da comunidade, ela se tornou vice-presidente do Conselho de Direitos e Defesa da Pessoa com Deficiência do Tocantins. Para ela, o primeiro passo é chamar a atenção para a existência dessas pessoas, porque as necessidades delas são alcançadas em leis, mas não são vivenciadas no dia a dia.
“Para a pessoa com deficiência, de modo geral, a maior necessidade é a atitude das pessoas e o direito de ir e vir. Se tivermos essa independência, a nossa liberdade seria maior. Um exemplo: quando as calçadas são acessíveis, muitas pessoas acabam colocando obstáculos e barreiras que dificultam nossa locomoção”, chama atenção Maria.
Muito está sendo feito
Todas as atuais obras de infraestrutura urbana de Araguaína, de ruas e calçadas aos novos prédios públicos, contemplam recursos de acessibilidade, como rampas, piso tátil e outros dispositivos.
Desde 2013, a cidade já recebeu 35 quilômetros de calçadas acessíveis e a população ainda conta com os serviços da Clínica Escola Mundo Autista, do Centro de Fisioterapia, Centro Especializado em Reabilitação (CER IV) e a Oficina Ortopédica, que oferece gratuitamente órteses e próteses. Todos esses serviços públicos são voltados para o atendimento às pessoas com deficiência.
Na Educação, há uma rede completa de acolhimento e atendimentos aos alunos que demandam atenção diferenciada. Ao todo, 30 escolas e creches de Araguaína são referência em Educação Especial, onde o estudante começa a receber todo o suporte necessário para acompanhar as aulas regulares e desenvolver outras habilidades na sala de recursos multifuncionais do AEE (Atendimento Educacional Especializado) voltada para alunos da Educação Especial da cidade.
A Educação Especial oferece os serviços de psicologia escolar, fonoaudiologia, psicopedagogia e serviço social. Os profissionais também ampliam os atendimentos para crianças em vulnerabilidade social e em casos de infrequência escolar no combate à evasão.
(Por Ricardo Sottero - Fotos: Marcos Filho Sandes / Secom Araguaína)
Todas as atuais obras de infraestrutura urbana de Araguaína, de ruas e calçadas aos novos prédios públicos, contemplam recursos de acessibilidade, como rampas, piso tátil e outros dispositivos
A dona de casa Érica e o seu marido Jares fazem tudo o que é possível para dar uma vida comum para o filho Guilherme
Maria Nilza Araújo se tornou deficiente visual por causa de uma doença ocular degenerativa
A 9ª Caminhada das Pessoas com Deficiência de Araguaína encerrou no Parque Cimba com um café da manhã